Estamos a viver uma nova fase, pior do que todas as outras que já tínhamos vivido.
Já estivémos neste lugar antes mas sabíamos que era cedo demais. Agora nada é certo e mais uma vez, a Shiba ensina-me a mais dura das lições - Não controlas tudo. Conhecendo-me como ninguém ela sabe que esta é a que mais me custa, sempre foi.
Nesta fase vejo que a minha maior dor também foi sempre o meu maior dom, criar resistência. Tornei-me demasiado boa na arte de remar contra a maré. Se por vezes isso me levou a portos incríveis, noutras alturas fez com que simplesmente me perdesse, a gastar toda a minha energia para contrariar o inevitável.
Os cães ensinam-nos lições preciosas e fazem-no da forma mais gentil que alguma vez vi. Quanta paciência, quanto amor.
Ser racional cada vez sabe mais a castigo do que a super-poder.
Todos os dias os cães estão disponíveis para receber o que temos para dar e quantas vezes se contentam com tão pouco. E nós o que fazemos? Pedimos mais e mais. Mais obediência. Mais calma. Mais tempo. Mais companhia. E mesmo quando nos dão tudo, não é o suficiente.
A ti Shiba, agradeço-te no que me tornaste. Sabia lá eu com 19 anos que a bolinha que escolhi por estar a roer a roupa no estendal ia mudar o curso da minha vida para sempre. E ainda bem que não soube.
Gosto de fingir que está tudo controlado. Pior, gosto de acreditar com todas as forças que estou preparada para o que der e vier. Nunca estamos. Achei que a vida te ia levar de um dia para o outro. Não estava preparada para te ver a ir devagar, um pouquinho de cada vez.
Primeiro foram-se as asneiras. Que saudades que eu tenho das tuas asneiras. De fugires com desconhecidos. De desarrumares a casa porque sempre foste demasiado sensata para destruir. De correres na praia até que te falhassem as patas e me falhasse a voz de tanto berrar o teu nome.
Depois disso veio a paz. Foste um cão tão fácil que até chateia. Raro poder apontar-te o dedo ou culpar-te por me atrapalhares a vida. Foste sempre a mais responsável das duas e não precisei de muito tempo para ver isso, a mais tranquila, a mais simpática e de longe a mais sábia. Por isso sempre te chamei irmã, nunca te vi como um ser que eu guiava pela vida, muito pelo contrário.
Agora que se foi a vontade, o apetite e as forças, passas-me a responsabilidade, a sensatez e a tranquilidade, um testemunho que não sei se estou apta para assumir. Espero não te falhar e sabendo que será difícil, espero estar à altura do que foste para mim.
Aqui vamos nós. Mais uma fase, mais uma aventura. Desafio proposto é desafio aceite e entre nós, nunca ficou nenhum por cumprir!
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