“Não temos o cão que queremos. Temos o cão que precisamos.”
Ouvi esta frase no primeiro dia de aulas da minha primeira formação e desde aí, não há uma semana em que não me recorde dela.
A Shiba foi o cão que veio acalmar as águas, que me mostrou que eu merecia coisas boas, que a vida para ser boa não precisava ser caótica, que é com pouco que vivemos tanto e acima de tudo, ao contrário do que eu tinha sentido até ali, que a nossa casa pode ser o melhor sítio do mundo, só depende de quem lá está para nos receber.
A Mali chegou e entrou pelas portas que a Shiba tinha escancarado. Dessa vez, mais disponível que nunca, fui presenteada com o cão mais doce que alguma vez conheci. Se a Shiba olhou por mim na base do “Vá lá, fica aqui. Não queres ir antes à praia? E se fôssemos correr? Coça-me aí o rabo. Esquece o resto e olha para mim.” A Mali chegou e apenas disse “Estou aqui. Fazemos o que quiseres.” Aceita tudo. Por vezes aceita tão pouco e aconteça o que acontecer, nunca pede nada em troca.
E agora, sem aviso de recepção, chega o Leão. Um bebé que em tão pouco tempo de vida e ainda há menos na minha, vira tudo do avesso e diz “Se tu não quiseres viver a tua, já volto. Vou viver a minha.” O Leão não espera, não pede, não pensa, só vai. Corajoso como eu nunca vi, tem a confiança de quem já vai na sétima vida e ainda lhe sabe a pouco.
Não sei o que veio para me ensinar mas estou aqui, na primeira fila, ansiosa para descobrir. Porque o Leão não é o cão que eu queria mas é tudo o que eu precisava e não sabia.
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