Passaram pouco mais de dois meses desde que não te tenho comigo e o tempo só traz mais certeza de tudo o que trouxeste contigo no dia em que rompeste pela minha vida a dentro.
Tenho-te chamado tantos nomes e tu sabes o que todos significam. Sempre soubeste ouvir “és o cão mais giro que eu já vi” quando te chamava “idiota” ou “tive saudades tuas” quando te dizia “o que fizeste hoje palhaça?”. Entre nós nunca foi preciso legendas nem nunca houve mal entendidos.
Agora ninguém parece falar a minha língua.
A dor tornou-se física. No estômago abre-se um buraco, a cabeça pesa, os joelhos tremem e a cara tranca como um cofre.
Mas mesmo quando dói, sei que não te queria ter tido nem um dia a mais nem um dia a menos. Chegaste quando eu mais precisava e partiste quando sentiste que eu já conseguia seguir sem ti. E sei que consigo.
Deixaste a paz, exatamente o que sabias que eu não teria talento para encontrar sozinha. Uma paz que me garante sempre que tudo está bem, mesmo quando não é como eu quereria. A certeza de que estou sempre no sítio certo à hora certa foi algo que só senti no dia em que te conheci e não sabes o quanto te agradeço por não a teres levado contigo.
Mas tu eras mais do que isso, eras grande parte da minha esperança. Essa não ficou. Se ficou está perdida e agora quem me ajuda a encontrá-la? Prometo que tenho procurado por todo o lado. Sim, já vi nos bolsos dos casacos. Não, também não está atrás do móvel da entrada. Tenho a certeza que revirei todos os cantos e não está em parte nenhuma. E agora?
O que faço sem ela? O que faço sem ti? Afinal isto não vai ser tão fácil. Sabia que não seria. Mas também sei que tens sempre razão. Está tudo bem.
Vai ficar sempre tudo bem.
Falamos em breve idiota.
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